Nicolas Sarkozy e Recep Tayyip Erdogan em abril de 2011 em Paris (Stéphane Lemouton)
Dia 22 de dezembro, a câmara
dos deputados franceses votou à quase unanimidade um projeto de lei condenando
a negação ou a contestação do genocídio armênio, não reconhecido pela Turquia, num
ambiente tenso. Pois, este voto provocou imediatamente uma reação violenta das
autoridades turcas que ameaçaram a França de vingança econômica, diplomática e
cultural. O texto de lei deve ser ainda aprovado pelo Senado no final do mês e
a intimidação entre os dois países acentua-se.
Desde 2001, a França reconhece dois genocídios. O
primeiro, a Shoah, organizada pelos nazistas, provocou a morte de milhões de
judeus durante os anos da Segunda Guerra mundial. O segundo é o genocídio
armênio, cometido pelo Império Otomano, antigo regime turco, em 1915, no qual
morreram entre 500 mil, segundo Ankara que reconhece essas mortes, mas recusa a
caracterização genocida dos massacres, e 1,5 milhões Armênios, segundo os
pesquisadores. Mas, até agora, só a negação do primeiro era punida pela lei.
De fato, a deputada Valérie Boyer, da UMP (União
para um Movimento Popular, partido de direita do atual presidente Nicolas
Sarkozy), elaborou e submeteu um projeto de lei para permitir a penalização da
negação do genocídio armênio. Se o texto passar no Senado, cada pessoa por em
questão a existência do genocídio armênio arriscará um ano de prisão e uma
multa 45 000 euros. Se a classe politica francesa concorda à quase
unanimidade com este projeto legislativo, o governo e a sociedade turcos não
vêm a proposta do mesmo olhar.
A 'Assemblée Nationale' (câmara dos deputados franceses) votou a lei condenando a negação do genocidio armênio
Com efeito, Recep
Tayyip Erdogan, Primeiro ministro turco, avisou a França de possíveis sanções
econômicas, diplomáticas e culturais se o texto for aprovado pelas duas câmaras
legislativas francesas. O embaixador turco em Paris, Tashin Burcuoglu, já
voltou em Ankara para receber as ordens do seu governo e está atualmente na
capital francesa para tentar convencer os senadores franceses de não ratificar
esta lei. Atualmente, seu homologo francês é persona non grata no território turco.
Segundo o governo turco, a proposta da direita
francesa só tem como objetivo conseguir os votos da comunidade armênia na
França, cujo número deve atingir quase 500 mil pessoas no território
nacional. Com efeito, durante a campanha eleitoral à Presidência em 2007,
Nicolas Sarkozy tinha feito da penalização da negação do genocídio armênio e da
recusa da entrada da Turquia na União Europeia algumas das suas propostas mais
fortes. Além disso, deve ser lembrado que a maioria dos Armênios da França
permanece na região de Marselha, região da deputada que criou a lei.
O governo
turco afirmou também não ter ordens a receber de um país como a França,
evocando a repressão dos movimentos de independência na Argélia, antiga colônia
francesa, entre os anos 1940 e 1960. Erdogan até falou de “genocídio” para
qualificar a ação das forças armadas francesas na Argélia e indicou o nome do
pai de Nicolas Sarkozy, militar nesta antiga região francesa nos anos da Segunda
Guerra mundial, que, segundo o Primeiro ministro turco, “deve ter um monte de
coisas a explicar a seu filho sobre os massacres cometidos pelos Franceses na
Argelia”. Ele fez também a proposta de investigar em todas as antigas colônias
francesas na África sobre a repressão ordenada pelo Hexágono contra as
populações então sob dominação francesa.
Manifestação da comunidade turca contra a lei na frente da Assembleia Nacional em Paris (AFP/Martin Bureau)
Apos a adoção da lei pelos deputados franceses,
Erdogan anunciou uma primeira série de sanções contra a França. Por exemplo, as
visitas bilaterais serão suspendidas, o Fórum comercial franco-turco previsto
em janeiro foi cancelado e os aviões militares franceses deverão agora pedir
autorização para voar em cima do solo turco. O primeiro ministro turco avisou
também que outras medidas serão aplicadas se o voto do Senado francês for favorável
à lei contestada por Ankara.
Mas as sanções não só têm origem governamental. Com
efeito, a sociedade turca também decidiu castigar a França. Restaurantes estão
recusando o uso de produtos franceses e associações colam cartazes chamando ao
boicote deles. Até o prefeito da capital Ankara cancelou a compra de mais de
cem carros elétricos da marca Renault e o chefe da polícia nacional turca
decidiu quebrar o contrato de equipamento concluído há alguns anos com a marca
Peugeot.
E, sem dúvida, estas iniciativas individuais poderiam ter mais impacto
sobre a economia e a política francesa do que as medidas governamentais. Hoje
em dia, o comércio entre os dois países gera mais de 12 bilhões euros e mil
empresas francesas têm instalações na Turquia.
Gauthier Berthélémy
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire